Ainda antes de terminar o curso, quando me preparava para iniciar o meu primeiro estágio, tentava prever os desafios que me esperavam: a integração num escritório com regras definidas, o respeito por um dress code rígido, o cumprimento de horários pouco flexíveis…
Contudo, como quase sempre acontece num primeiro trabalho, as minhas expectativas estavam desalinhadas da realidade, e vi-me inesperadamente a trabalhar em regime de home office.
A empresa que integrei resultava da iniciativa de um conjunto de pessoas que tinham outros empregos a tempo inteiro, sendo eu e outra colega as únicas em dedicação exclusiva ao projeto. Não tínhamos um escritório porque cada elemento da equipa trabalhava de acordo com a sua disponibilidade, o que na maioria dos casos acontecia à noite e a partir de casa.
Sozinha 90% do meu tempo, responsável por definir o meu ritmo de trabalho diário, e com a perspetiva de ser avaliada apenas de acordo com resultados produzidos ao fim de seis meses, fui desenvolvendo, intuitivamente nuns casos, por tentativa e erro noutros, um conjunto de técnicas que me permitiram manter o foco, a motivação e, nalguns dias, a sanidade mental.
Estas soluções não são, certamente, universais, no sentido em que a sua aplicação não resultará imediatamente em melhores resultados para todas as pessoas. Trata-se no fundo da minha receita pessoal, cujo efeito é comprovado pelo facto de hoje, trabalhando num escritório grande, em open space, frequentemente recorrer ao home office como forma de assegurar maior concentração e produtividade. Caberá no entanto a cada pessoa definir qual/quais as ideias que melhor se aplicam ao seu perfil e preferências.
- Estabelecer um horário. As rotinas são estruturantes, não só para manter a cadência da produção, mas também para garantir momentos de repouso e recuperação de energia. Afinal, existe um motivo para que a duração da semana de trabalho seja regulamentada, e esse motivo tem a ver com a proteção do equilíbrio físico e psíquico do trabalhador.
- Definir objectivos. Quando o prazo é muito lato ou os resultados a atingir estão definidos de forma muito abrangente, é importante criar sub-objetivos que vão ajudando a gerir o esforço, garantir pequenos ganhos e reforçar a motivação.
- Monitorizar o desempenho. Depois de definidos os sub-objetivos, é útil fazer um planeamento (diário, semanal, mensal) que permita cumpri-los e ir acompanhando a evolução, comparando os resultados com o planeamento definido.
- Manter o equilíbrio. Este ponto está relacionado com o primeiro – trabalhando a partir de casa, é fácil ceder a uma de duas tendências, diferentes mas com resultados semelhantes: ou acordar mais tarde, fazer várias pausas ao longo do dia, e depois ter que compensar a improdutividade à noite, ou, quando o nível de trabalho é elevado, nunca “desligar”. Trabalhar em regime de home office é uma oportunidade única para construir o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas é necessária disciplina para respeitar os compromissos de trabalho e ao mesmo tempo garantir que se cumprem os pequenos rituais que nos permitem recuperar energia (correr ao fim do dia, ir ao ginásio, ir ao café com os amigos…).
- Combater o isolamento. Ao fim de uma semana a trabalhar em casa, o silêncio pode tornar-se ensurdecedor (nem o Facebook, nem o Skype, nem o Spotify substituem o ruído das conversas, a oportunidade de trocar ideias a meio do dia…). Para quem trabalha por conta própria ou numa empresa que não tem escritório, a estratégia pode passar por procurar espaços públicos onde outras pessoas estejam a trabalhar (espaços de cowork, bibliotecas ou cafés, por exemplo). Para quem trabalha numa empresa com escritório, adotar uma rotina de ir ao escritório pelo menos uma vez por semana, agendar antecipadamente um almoço com colegas, garantir que a agenda para esse dia não obriga a ficar fechado numa sala e inclui oportunidades para algum convívio e troca de ideias, e quem sabe até levar algumas questões para discussão, são técnicas importantes para tirar melhor partido de ambos os mundos: o do home office e o do escritório.
- Manter o contacto com os colegas de trabalho. Embora os outros elementos da minha empresa tivessem outros empregos a tempo inteiro, naquele projeto éramos uma equipa e rapidamente percebi que era fundamental alimentar as relações, sob pena de perder acesso a informações relevantes, conhecimento tácito, pequenas aprendizagens e boas práticas que podiam facilitar (e muito) o meu trabalho. Mesmo que no início seja necessário criar alguns pretextos para manter a comunicação, o segredo é ritualizá-la (por exemplo, quando trabalhamos todos num mesmo escritório cumprimentamo-nos à chegada, porque não fazê-lo também quando a equipa está dispersa?).
- Manter o contacto com o mundo profissional. A internet dá-nos acesso a muita informação, mas muitas vezes o conhecimento mais importante é partilhado informalmente e face to face. Quando trabalhamos sozinhos, temos o dever de combater o alheamento, o que é possível, por exemplo, assistindo a seminários, palestras, conferências, eventos de networking e formações.
Em suma, trabalhar a partir de casa requer disciplina e responsabilidade para cumprir objetivos profissionais, respeitar compromissos pessoais e manter o networking. Trabalhar em home office não significa necessariamente trabalhar sozinho, mas requer um esforço adicional para manter na mente e na agenda o compromisso de cuidar e alimentar as relações.
Se, apesar de todas estas (ou outras) estratégias, sentir que o home office não é para si, importa repensar (e, se for o caso, debater com o seu Manager) o motivo para essa opção e procurar alternativas que lhe permitam trabalhar na sua zona de conforto, porque tal como os escritórios em open space não são o contexto mais produtivo para todas as pessoas, também trabalhar a partir de casa não resulta, em todos os casos, numa maior concentração e foco."
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